quinta-feira, 2 de maio de 2013
AS DESVENTURAS DO GRANDE BOI TATÁ. CAPITULO I.
AS DESVENTURAS DO GRANDE BOI TATÁ.
Capitulo I.
Era uma vez. Assim começam todas as histórias e a do grande boi tatá não pode ser diferente.
Boi tatá, também conhecido no nordeste como “fogo corredor”. Viajou muito por esse mundo a fora e conheceu lindas paisagens em cidades históricas e acolhedoras. Formou-se em pedagogia e cursou mestrado. Tem o salutar habito de ler muito, para melhor informar seus discípulos. Entre os seus escritores preferidos, encontramos Monteiro Lobato, Edson Rocha Braga, Maria Stella Libanio e Pedro Bloch. Um dia logo após dar aula aos seus discípulos infanto-juvenil ensinando a famosa modinha ciranda-cirandinha, ele sentou-se á sombra de um cajueiro, para preparar e beber seu chá da manhã. Colocou á chaleira (ele adora chaleira) no fogo para ferver a água, quando a água ferveu. Ele retirou de sua sacola um pouquinho de rubefacientes, vesificantes, adstringentes, emolientes, umectantes, hidratantes, queratopolásticos, queratoliticos e cáusticos e colocou na chaleira e desligou o fogo. Enquanto o chá esfriava um pouco retirou do bolso um poema de Machado de Assis, dado a ele por um vetusto.
A mosca azul.
"Era uma mosca azul, asas de ouro e granada,
Filha da China ou do Indostão,
Que entre as folhas brotou de uma rosa encarnada,
Em certa noite de verão.
E zumbia, e voava, e voava, e zumbia,
Refulgindo ao clarão do sol
E da lua, - melhor do que refulgiria
Um brilhante do Grão-Mogol.
Um poleá que a viu, espantado e tristonho,
Um poleá lhe perguntou:
“Mosca, esse refulgir, que mais prece um sonho,
Dize, quem foi que to ensinou?"
Então ela, voando, e revoando, disse:
- "Eu sou a vida, eu sou a flor
"Das graças, o padrão da eterna meninice,
"E mais a glória, e mais o amor".
E ele deixou-se estar a contemplá-la, mudo,
E tranqüilo, como um faquir,
Como alguém que ficou deslumbrado de tudo,
Sem comparar, nem refletir.
Entre as asas do inseto, a voltear no espaço,
Uma coisa lhe pareceu
Que surdia, com todo o resplendor de um paço
E viu um rosto, que era o seu.
Era ele, era um rei, o rei de Cachemira,
Que tinha sobre o colo nu,
Um imenso colar de opala, e uma safira
Tirada ao corpo de Vischnu.
Cem mulheres em flor, cem nairas superfinas,
Aos pés dele, no liso chão,
Espreguiçam, sorrindo, as suas graças finas,
E todo o amor que tem lhe dão.
Mudos, graves, de pé, cem etíopes feios,
Com grandes leques de avestruz,
Refrescam-lhes de manso os aromados seios,
Voluptuosamente nus.
Vinha a glória depois; - quatorze reis vencidos,
E enfim as páreas triunfais
De trezentas nações, e os parabéns unidos
Das coroas ocidentais.
Mas o melhor de tudo é que no rosto aberto
Das mulheres e dos varões,
Como em água que deixa o fundo descoberto,
Via limpos os corações.
Então ele, estendendo a mão calosa e tosca,
Afeita a só carpintejar,
Com um gesto pegou na fulgurante mosca,
Curioso de a examinar.
Quis vê-la, quis saber a causa do mistério.
E, fechando-a na mão, sorriu
De contente, ao pensar que ali tinha um império,
E para casa se partiu.
Alvoroçado chega, examina, e parece
Que se houve nessa ocupação
Miudamente, como um homem que quisesse
Dissecar a sua ilusão.
Dissecou-a, a tal ponto, e com tal arte, que ela
Rota, baça, nojenta, vil,
Sucumbiu; e com isto esvaiu-se-lhe aquela
Visão fantástica e sutil.
Hoje, quando ele aí vai, de áloe e cardamomo
Na cabeça, com ar taful,
Dizem que ensandeceu, e que não sabe como
Perdeu a sua mosca azul".
(texto original)
Terminou de ler o poema de Machado de Assis, bebeu o seu chá e pensando na mosca azul adormeceu.
CAPITULO II NO PRÓXIMO BLOG.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário